43 anos de óbito da engenheira marcam o pioneirismo da mulher que abriu caminho importante para as gerações seguintes de mulheres que buscaram a profissão
O Registro Civil é uma ferramenta fundamental para preservar a memória e a história de indivíduos que, ao longo do tempo, contribuíram de maneira significativa para o desenvolvimento social, cultural e científico de suas comunidades. No Brasil, uma figura notável que ressalta a importância desse registro é Enedina Alves Marques, uma engenheira curitibana cuja trajetória singular deixou marcas indeléveis para as mulheres do país.
Nascida em 9 de novembro de 1913, Enedina Alves Marques tornou-se uma personalidade destacada não apenas por suas realizações profissionais, mas também por sua atuação pioneira no campo da engenharia. Filha de Paulo Marques e Virgínia Alves Marques, trilhou um longo caminho entre os livros até chegar à universidade.
Alfabetizada entre 1925 e 1926, Enedina passou a lecionar no interior no estado em 1935, atuando em cidades como Rio Negro, São Mateus do Sul, Cerro Azul e Campo Largo.
Desde então, a futura engenheira buscou compartilhar seus conhecimentos com as crianças ao alugar uma casa na frente do Colégio Nossa Senhora Menina, no bairro Juvevê, em Curitiba/PR, para classes seriadas de alfabetização.
Formada no Madureza, no Novo Ateneu (curso exigido para o magistério), em 1937, Enedina começou a trilhar um novo caminho. Nasce em 1938 sua paixão pela engenharia. Nesse mesmo ano, fez curso complementar em pré-Engenharia no Ginásio Paranaense (hoje Colégio Estadual do Paraná) para, em 1940, ingressar na Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Paraná. Em 1945, aos 32 anos de idade, Enedina graduou-se em Engenharia Civil, tornando-se a primeira mulher engenheira do Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil.
Trajetória profissional
Começou a trabalhar na profissão na Secretaria de Viação e Obras Públicas do Paraná como fiscal de obras, tendo depois ocupado diversas chefias. Foi chefe do serviço de engenharia da Secretaria de Educação e Cultura e atuou no levantamento topográfico da Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira (atual Governador Pedro Viriato Parigot de Souza), tendo sido o feito mais conhecido entre os projetos desenvolvidos pela engenheira.
A engenheira se aposentou com 49 anos, em 1962. Ela recebeu o reconhecimento do governo do Paraná por seu pioneirismo e teve aposentadoria equivalente à de um juiz.
Além de suas realizações acadêmicas, Enedina Alves Marques desafiou estereótipos raciais e de gênero, tornando-se um símbolo de superação e inspiração para as gerações futuras. Sua presença no campo da engenharia não apenas contribuiu para o avanço científico, mas também abriu caminho para outras mulheres e negros que aspiravam seguir carreiras semelhantes.
A engenheira curitibana não limitou seu impacto apenas ao âmbito acadêmico. Enedina Alves Marques foi uma defensora da igualdade racial e uma figura ativa na promoção da diversidade e inclusão. Sua influência transcendeu as fronteiras da engenharia, alcançando esferas mais amplas da sociedade brasileira.
Morte e homenagens
Responsáveis em registrar atos vitais dos brasileiros, os Cartórios de Registro Civil guardam em seus registros documentos que acompanham a trajetória de vida de milhares de pessoas. Exemplo disso é o 2º Ofício de Registro Civil de Curitiba/PR, que possui a certidão de óbito de Enedina Alves.
Completando 43 anos de óbito em 2024, Enedina faleceu aos 68 anos, no dia 27 de agosto de 1981, às 19h, em domicílio na Rua Ermelino de Leão, no Centro de Curitiba/PR. A causa da morte, como consta na certidão de óbito, dependia de exames complementares. No documento da engenheira, filha de Paulo Marques e Virgínia Alves Marques, consta como ignorada a existência de testamento deixado por Enedina, embora haja a afirmação que deixou bens. Solteira, Enedina foi encontrada morta em casa, tendo sido sepultada no Cemitério São Francisco De Paula, em Curitiba/PR.
Ao explorar a trajetória de Enedina Alves Marques, é possível compreender como o Registro Civil desempenha papel crucial na construção da história e na valorização de figuras que moldaram o cenário social e cultural do Brasil. O legado dessa engenheira curitibana continua a inspirar, e sua presença na história é um lembrete da importância de documentar e reconhecer as contribuições de personalidades que, muitas vezes, foram negligenciadas ao longo do tempo.
O reconhecimento oficial de sua importância como uma personalidade negra de destaque, pelo Palmares, órgão vinculado à Secretaria Especial da Cultura do Governo Federal, evidencia a relevância de seu legado. Esse reconhecimento não apenas honra a memória de Enedina Alves Marques, mas também destaca a importância de preservar e valorizar as contribuições de figuras que moldaram positivamente a história do Brasil.
O nome de Enedina foi inscrito no Memorial à Mulher, ao lado de outras 53 mulheres pioneiras brasileiras. Ela também dá nome a uma rua de Curitiba. Em 2006, foi inaugurado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá.
Fonte: Assessoria de Comunicação – Anoreg/PR